quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Falsos Profetas


Norbert Lieth

Desde a queda no pecado existem brigas, ódio, assassinatos, homicídios, inveja, falsidade e engano. O autor do livro de Eclesiastes escreveu com razão: “...nada há que seja novo debaixo do sol” (Ec 1.9).

Já na época de Jeremias havia profetas pouco sóbrios, irrealistas e falsos, que desencaminhavam o povo com profecias enganosas. Mesmo quando as nuvens da tempestade do juízo se ajuntavam mais densas do que nunca sobre Jerusalém, eles acalmavam o povo. Suas declarações eram muito positivas e soavam edificantes, até mesmo encorajadoras aos ouvidos das pessoas. Eles prometiam muito, inclusive a vitória.

Em comparação, os ouvintes recebiam as mensagens de Jeremias como destrutivas, austeras e deprimentes, e só percebiam nelas a perspectiva do juízo. Tratava-se da justiça de Deus e da injustiça do povo, da sua falta de arrependimento e conversão. Como Jeremias deve ter se sentido diante deles?

O falso profeta Hananias apresentava uma “mensagem maravilhosa” e tinha a ousadia, e até mesmo a insolência, de proclamá-la abertamente: “No mesmo ano, no princípio do reinado de Zedequias, rei de Judá, isto é, no ano quarto, no quinto mês, Hananias, filho de Azur e profeta de Gibeão, me falou na Casa do Senhor, na presença dos sacerdotes e de todo o povo, dizendo: Assim fala o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Quebrei o jugo do rei da Babilônia. Dentro de dois anos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da Casa do Senhor, que daqui tomou Nabucodonosor, rei da Babilônia, levando-os para a Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, e a todos os exilados de Judá, que entraram na Babilônia, eu tornarei a trazer a este lugar, diz o Senhor; porque quebrei o jugo do rei da Babilônia” (Jr 28.1-4). 

A isso Jeremias respondeu: “Disse, pois, Jeremias, o profeta: Amém! Assim faça o Senhor; confirme o Senhor as tuas palavras, com que profetizaste, e torne ele a trazer da Babilônia a este lugar os utensílios da Casa do Senhor e todos os exilados. (...) O profeta que profetizar paz, só ao cumprir-se a sua palavra, será conhecido como profeta, de fato, enviado do Senhor” (vv. 6,9). 

Hananias não ficou nem um pouco impressionado, mas fez o seguinte:“Então, o profeta Hananias tomou os canzis do pescoço de Jeremias, o profeta, e os quebrou; e falou na presença de todo o povo: Assim diz o Senhor: Deste modo, dentro de dois anos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, de sobre o pescoço de todas as nações. E Jeremias, o profeta, se foi, tomando o seu caminho” (vv. 10-11). 

Para Jeremias a única opção era o afastamento. Mas o Senhor orientou-o para que voltasse até Hananias e lhe dissesse, entre outras coisas: “...O Senhor não te enviou, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que assim diz o Senhor: Eis que te lançarei de sobre a face da terra; morrerás este ano, porque pregaste rebeldia contra o Senhor. Morreu, pois, o profeta Hananias, no mesmo ano...” (vv. 15-17). Todas as profecias mentirosas de Hananias foram soterradas pela areia da fantasia, pois Jerusalém foi definitivamente conquistada e todos os utensílios foram retirados do templo.

Em uma carta, Jeremias teve de escrever o seguinte aos líderes de Israel e a todo o povo que Nabucodonosor tinha levado para a Babilônia:“Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor” (Jr 29.8-9). 

É interessante a proximidade significativa entre as falsas profecias e a adivinhação.

A situação hoje não é muito diferente: profecias bíblicas estão para se cumprir. A princípio as perspectivas não são boas, pois as nuvens da tribulação que se aproxima estão cada vez mais densas. 

Estamos cercados por más notícias. Indo de encontro a isso, prega-se em muitos lugares um evangelho puramente “positivo”, que ignora esses fatos e é recebido com atenção crescente:

– Avivamentos e curas são prometidos em larga escala. E embora, depois das reuniões, os doentes sejam tirados dos palcos ainda nas mesmas cadeiras de rodas nas quais chegaram, quase ninguém nota isso. O importante é o show!

– Faz-se do pecado algo inofensivo e fortalece-se a fé em si mesmo.

– A mensagem de exortação do Evangelho não é mencionada, e em vez disso espalha-se um evangelho do “sentir-se bem”.

Menciono alguns paralelos:

As advertências dos apóstolos são claras em relação aos últimos tempos, e não podemos negar que elas sejam cada vez mais pertinentes aos nossos dias:

Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo” (2 Co 11.13).

Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras...” (2 Pe 2.1).

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 Jo 4.1).

Porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos” (Rm 16.18).

Mas não devemos apontar para os outros sem olhar para nós mesmos, antes queremos aceitar essas exortações para nossa própria vida.

É claro que o Senhor pode falar de forma muito pessoal conosco por meio de uma palavra qualquer; provavelmente todo cristão pode testemunhar que isso acontece, alegrando-se com esse fato. Ainda assim não podemos aplicar os versículos bíblicos de forma aleatória e tola à nossa própria situação. 

Um exemplo: há algum tempo precisei ir com urgência à cidade de Hannover para conduzir um funeral. A previsão do tempo era a pior possível, havia alerta de tempestade, fortes nevascas, as ruas estavam escorregadias e os vôos estavam muito atrasados ou eram até cancelados. 

Alguns irmãos na fé aconselharam-me a não voar de jeito nenhum; seria muito melhor se eu viajasse com o trem noturno. Quanto mais eu prestava atenção aos amigos e ao meu próprio amedrontamento, mais inseguro ficava. 

Naquela noite tivemos uma reunião de oração. Alguns minutos antes do início abri minha Bíblia na esperança de, talvez, encontrar uma resposta ali. Meu olhar caiu sobre Lamentações 1.1-2:“...Tornou-se como viúva... Chora e chora de noite, e as suas lágrimas lhe correm pelas faces; não tem quem a console...” Lembrei da minha esposa – e fiquei ainda mais inseguro. 

Será que eu deveria viajar de avião? Conversei com ela em casa e ela disse que, em sua opinião, eu deveria voar despreocupadamente, pois voltaria são e salvo para casa. E, graças a Deus, foi o que aconteceu.

Essa insegurança pode surgir quando arrancamos as passagens de seu contexto. É preciso estar atento para que tudo aquilo que ensinamos, pregamos ou aprendemos em nossa “hora silenciosa” corresponda ao fundamento bíblico e não seja arrancado de seu contexto. 

A Palavra de Deus não pode ser simplesmente moldada a fim de confirmar nossa opinião pré-concebida. Infelizmente, algumas traduções, versões ou comentários da Bíblia não raro são adaptadas a certas tradições. 

Tenta-se manter e endurecer opiniões tradicionais próprias por meio de versículos bíblicos. Mas assim a Bíblia é rebaixada a objeto e nós mesmos nos elevamos à condição de sujeitos. 

Basta lembrar da questão do sábado, da observação das festas e feriados judaicos, da ingestão de alimentos, do batismo e de outros temas semelhantes. 

Não importa se parece positivo ou negativo: se não corresponder ao ensino geral da Escritura Sagrada, não vale nada. Mesmo o diabo tentou fazer com que Jesus caísse usando versículos da Palavra de Deus arrancados de seu contexto (Mt 4.3ss). E, como ele fazia e ainda continua fazendo isso, tudo o que ele diz é mentira, mesmo se referindo à Palavra de Deus.

As maiores heresias, opiniões equivocadas e seitas surgiram pela interpretação errada da Palavra de Deus.

Mais um exemplo de como não se deve agir: um filho de Deus querido e devotado às vezes sofre com pensamentos depressivos. Durante uma dessas fases ele teve dúvidas acerca da certeza de sua salvação. 

Ele conta que pensou várias vezes nos versículos de Hebreus 12.16-17, que dizem: “nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado”. 

Mas no caso de Esaú não se tratava de um filho de Deus que tinha pecado, mostrado contrição e, ainda assim, se perdido. Não: Esaú era antes de mais nada um ímpio, que vivia dessa forma e tinha desprezado conscientemente o seu direito à primogenitura. 

Esaú estava muito próximo da promessa destinada a ele, mas a rejeitou com desprezo, não a considerou e nem tomou posse dela. Mais tarde ele também quis herdar uma bênção, mas não era a bênção de Deus. 

As lágrimas de Esaú não foram derramadas em contrição. Ao contrário, ele tentou obter a bênção por meio de lágrimas – sem arrependimento. O caso de Judas foi parecido, pois ele sentiu remorso, mas não se arrependeu (Mt 27.3-5, veja também 2 Co 7.10).

Em outro trecho, a Bíblia diz a respeito de Esaú: “Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9.13). Isso significa que não havia nada em Esaú que o Senhor pudesse ter amado: nenhuma sinceridade, nem um pingo de integridade ou de busca pelo favor do Senhor, bem ao contrário de Jacó, que no auge do sofrimento de sua alma orou:“...Não te deixarei ir se me não abençoares” (Gn 32.26). É assim que a ira de Deus se manifestou contra Esaú e permanece sobre qualquer pessoa que rejeita a fé em Jesus (cf Jo 3.36).

Portanto, a questão não é se um nascido de novo pode se perder, mas que uma pessoa que não nasceu de novo, que vive sem Deus, que está perto da redenção (como Esaú) e tem a promessa, perde a salvação porque, em última instância, rejeita a opção e não a aceita para si. 

Muitos judeus, a quem a Epístola aos Hebreus fora dirigida, só se importavam com as bênçãos, isto é, as vantagens do cristianismo (Hb 10.29), mas não com Jesus. Aquele que permanece indiferente a Jesus Cristo, a indizível dádiva de Deus, comete um erro que não poderá ser perdoado nem na eternidade! (Norbert Lieth - http://www.chamada.com.br)

Fonte: www.chamada.com.br

http://www.chamada.com.br/mensagens/falsos_profetas.html

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A SALA DO MILAGRE

Você já passou por uma situação em que viu ruírem todos os seus sonhos, sem ter nem como juntar os cacos espatifados pelo chão? Ou já passou por uma dor tão grande como nunca supôs ser capaz de suportar? Já se sentiu desamparado, doente, triste, ficando tão desanimado a ponto de nem querer sair do lugar?

 Passei recentemente (não muito recentemente, pois este texto é antigo) por uma situação que se encaixa nessas frustrações que caem sobre nossa vida sem aviso prévio... Comprei passagens (ida e volta!) para ir a São Paulo, pois tinha planos, sonhos, intenções... tudo engatilhado... Aniversário de um filho; casamento de uma menina amada como filha, gente muitíssimo especial; aniversário de um neto e um encontro com meu pai, que tem 92 anos (tinha...), a quem tenho (tinha...) poucas oportunidades de ver por causa da distância. 

Tenho escrito bastante e então selecionei quase trinta textos, fiz várias cópias; queria deixar com alguns amigos, para que avaliassem, pensando até em publicar, quem sabe... Eu teria também um ministério em Curitiba no começo de setembro...

 Mas... havia um tapetinho de crochê, bonitinho, fofinho... no meio do caminho... Engastalhei naquele tapete o saltinho do sapato, perdi o equilíbrio e bati com força o braço na quina do fogão, que também estava no meio do caminho... Caí e me vi estendida no chão. Olhei para a minha mão largada ali e era como se fosse a de outra pessoa: não a sentia. 

Havia quebrado o braço. Pendi a cabeça, apoiando-a devagar no chão, esperando ser acudida. Havia muitas pessoas na casa: uma festa de aniversário de crianças. Quando pendi a cabeça, pensaram que eu havia desmaiado. Não. Com aquele gesto também penderam os sonhos, os planos: eu vi tudo se espatifar... Resultado: sete semanas de gesso e uma infinidade de fisioterapias depois... porque osso de velhinha é difícil de soldar... Proibido rir de mim!...

 Qual é nossa atitude quando somos frustrados, impedidos, parados pelas circunstâncias? Para quem dirigimos o nosso olhar? Quais palavras usamos? A quem escutamos?

 LEIA LUCAS 8: 40-56

 Este é um texto muito rico. Vemos aqui um grande movimento de pessoas – multidões ao redor de Jesus, apertavam-no, oprimiam-no. A multidão o recebera com alegria: estava à espera dele. Duas pessoas, porém, são destacadas dessa multidão: uma mulher sem nome, cansada de lutar com uma enfermidade, e um homem importante, chefe da sinagoga, que tinha uma filha que estava morrendo. 

Cada um, a seu tempo, olha para Jesus, em seu desespero, e se prostra a Seus pés, sem se importar com a multidão. Jairo, o chefe da Sinagoga, chega primeiro, suplica, e Jesus segue com ele. Mas as multidões O apertam; parece que aumentou o número de pessoas. E Ele é interrompido em Seu trajeto pela mulher, que em seu desespero fura aquela parede humana, crendo que, se apenas tocar em Suas vestes, será curada. Ela toca nEle e tudo pára! 

A multidão pára, Jairo pára! Jesus pára para saber quem O tocara. Houve cura, libertação! Jesus sente que saiu poder dEle por causa de um simples toque. A fé era muito grande. E ela se apresenta, já liberta, e se prostra, sem se importar com a multidão. Ali está o Senhor Jesus; e ela já não pode se ocultar. Dá-se a conhecer, expondo-se. E ouve de Jesus: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz”.

Quando Jesus despedia em paz aquela mulher, chega alguém e diz a Jairo: “Tua filha já está morta! Não incomodes mais o Mestre”. Ah! Portadores de notícias! Nosso mundo está cheio deles. Mas Jesus está ali ao lado de Jairo e lhe diz: - “Não temas, crê somente, e ela será salva”.

A multidão ali na casa chorava e pranteava. E quando Jesus diz que a menina não está morta, todos riem. A mesma multidão que chora, ri. Multidão incrédula. Jesus então entra na casa de Jairo, mas não permite que ninguém entre com Ele, a não ser Pedro, Tiago e João e os pais da menina. A multidão incrédula fica do lado de fora. Somente cinco pessoas são convidadas a estar ali na Sala do Milagre.

 Somente os que podem crer são chamados a essa intimidade. Ele só chamou, só permitiu entrar os que podiam crer, para diante deles realizar o milagre.

 Para encontrar Jesus e obter o milagre que procuro, preciso sair da multidão (mesmo estando no meio dela) e olhar para Ele tão-somente. E ali naquele lugar de encontro estarmos Ele e eu, e não me importar com a multidão...

 Diante de tudo isso que acabamos de considerar, diante dessas duas manifestações do poder de Jesus, temos algumas coisas a considerar, algumas perguntas a fazer:

 1) Para onde dirigir o meu olhar, o seu olhar, na hora da dor, do desespero, do vazio? Para Ele? Qual é a nossa atitude no meio das multidões que oprimem, que nos impedem? Temos a coragem de fazer tudo parar só por um toque nEle? Somos capazes de nos expor?

 2) Que palavras usamos diante de circunstâncias contrárias? Palavras de maldição? De desânimo? De falsas promessas? De mentira? Ou de encorajamento, de alento, de esperança? Que tipo de portadores de notícias somos?

 3) A quem escutamos em nosso desespero? A uma multidão que desencoraja? Ou a Jesus que diz a despeito de qualquer circunstância: - “Não temas, crê somente e... haverá salvação?”
4) Que atitude tomamos? A mesma multidão que chora e se descabela, ri, zombando, incrédula. Como fica o nosso coração diante de situações impossíveis?

 5) Você seria também chamado à Sala do Milagre se estivesse ali?

 Faça essas perguntas a si mesmo (a) agora, sendo bem sincero (a) ao responder.

 Jesus quer levá-lo (a) à Sala do Milagre, quer estar com você ali, quer trazer vida ao que está morto, quer curar o que está ferido, quer restaurar o que está danificado pelo pecado.

 Que possamos ser chamados por Ele à Sala do Milagre, sempre!

Fonte: Beatriz Gotardelo Fraga Moreira – via facebook

A Autora foi minha contemporânea na mocidade em Juiz de Fora, ela na Igreja Presbiteriana e eu na Igreja Metodista.

domingo, 2 de novembro de 2014

Sola Scriptura

 Repórter – O doutor poderia resumir em poucas palavras o conteúdo básico da revolução religiosa que está acontecendo na Europa desde 1517?

Lutero – Preciso apenas de uma ou duas linhas para resumir tudo: “sola scriptura”, “sola gratia” e “sola fide”. Essas expressões latinas são os nossos três “somentes”: só as Escrituras, só a graça e só a fé.

Repórter – Foi o doutor quem inventou esses três “somentes”?

Lutero – Eu não inventei. Eles já existiam. Mas estavam lamentavelmente cobertos de poeira grossa e teias de aranha, arremessados à sujeira e pisoteados. Pela graça de Deus, redescobrimos o valor das Escrituras, o valor da graça e o valor da fé, tiramos a poeira, lustramos essas riquezas e as trouxemos à luz do dia. Agora que está tudo limpo e brilhando de novo, cada um pode ver como é o evangelho de Jesus.

Repórter – O que o doutor quer dizer com o “sola scriptura”?

Lutero – Quero dizer que somente a Escritura — e não a Escritura somada à tradição da Igreja — são a fonte de revelação cristã. A Bíblia deve ser a primeira e a última palavra para qualquer declaração de fé.

Repórter – Então o doutor se coloca em oposição à rica tradição da Igreja.

Lutero – Não é bem assim. Eu coloco a Escritura acima da tradição, e não o contrário.

Repórter – Nunca em pé de igualdade?

Lutero – Também não. Pois a Escritura não pode ser equiparada à tradição. São Paulo diz que “toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). Não se pode dizer o mesmo com respeito à tradição.

Repórter – Em que lugar o doutor coloca os pronunciamentos papais?

Lutero – Sempre abaixo da autoridade da Bíblia. Esta deve governar como Palavra de Deus na Igreja e não pode ser embaraçada pelo magistério papal nem rivalizada por supostas revelações adicionais.1

Repórter – Mas há coisas que a Escritura não explica.

Lutero – Na “Exposição de Romanos”, de João Calvino, o reformador francês radicado em Genebra, 26 anos mais novo do que eu, afirma acertadamente que não devemos “procurar saber nada mais senão o que a Escritura nos ensina”. Ele diz também que “onde o Senhor fecha seus próprios lábios, devemos impedir que nossa mente avance sequer um passo a mais”.

Repórter – Já que o doutor mencionou o nome de Calvino, pergunto se vocês estão de acordo quanto ao “sola scriptura”.

Lutero – Apesar de nossas divergências de ênfase e de estilo, eu, Calvino e Ulrico Zwínglio, o reformador suíço, nascido um ano depois de mim, estamos de pleno acordo quanto à centralidade da Palavra de Deus e quanto à certeza de que a Escritura é a fonte para se pensar em Deus.2

Repórter – A Escritura está ao alcance do povo?

Lutero – De 1457, dezessete anos depois da invenção da impressão com tipos móveis, a 1517, ano das “Noventa e Cinco Teses”, foram publicadas mais de 400 edições da Bíblia. Não estou incluindo nessa estatística o Novo Testamento de Erasmo e a Bíblia em alemão por mim traduzida.

Repórter – O preço de cada exemplar da Escritura deve ser proibitivo.

Lutero – No passado, as Bíblias em latim custavam 360 florins. As mais elaboradas, chegavam a custar 500 tálares. Mas o Novo Testamento que traduzi logo após a Dieta de Worms, é vendido a um florim e meio!

Repórter – Qual a relação entre o “sola scriptura” e o “sola gratia”?

Lutero – O primeiro “somente” nos leva ao segundo “somente”. Isto é, na leitura da Escritura redescobrimos que a vida eterna é o dom gratuito de Deus, como São Paulo ensina na Epístola aos Romanos (6.23). A Escritura, e nada mais, é o instrumento pelo qual o Espírito nos conduz à graça. A Igreja há muito tempo deixou o “sola gratia” no esquecimento e começou a tornar a salvação mais difícil, distante, incerta, meritória e burocrática.

Repórter – Mais lucrativa também?

Lutero – Não posso negar esse fato, frente ao problema do comércio das indulgências, quando o perdão de pecados e a remissão da culpa são vendidos de cidade em cidade muito mais em benefício do Estado papal do que das almas.

Repórter – O que o doutor quer dizer com o “sola gratia”?

Lutero – Entendo e prego que o pecador é justificado somente pelo amor, pela misericórdia e pela graça de Deus, e nada mais. O “sola gratia” tanto me abaixa até o pó como me ergue até às estrelas. Primeiro me humilha, depois me honra; humilha-me quando me informa e me convence de que não tenho nada para oferecer em troca da salvação; honra-me quando me informa e me convence de que em Cristo fui salvo (isto é justificação), estou sendo salvo (isto é santificação) e serei salvo (isto é glorificação). A graça de Deus me livra da culpa, do poder e da presença do pecado.

Repórter – Mas isso é formidável!

Lutero – De fato. Todavia, como reza o “sola scriptura”, “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Co 2.9). Deus ainda tem muito mais para nos oferecer e mostrar.


-- Trecho retirado do livro Conversas com Lutero, p. 222-224, de Elben M. Lenz César.


Notas:
1. STANLEY, J. Grenz et al. “Dicionário de teologia”; mais de 300 conceitos teológicos definidos de forma clara e concisa. São Paulo: Vida, 2000. p. 125.
2. EDITORA MACKENZIE. “O pensamento de João Calvino”. São Paulo: Mackenzie, 2000. p.16.


Nem clero, nem leigo

No decorrer da Idade Média, a igreja cristã na Europa organizou-se em paróquias. Esta estrutura perdurou por mais de um milênio com igrejas edificadas no centro de vilas e cidades e com a vida de sua população gravitando em torno delas. 


Este modelo de igreja não foi modificado pela Reforma do século 16. Assim o encontramos, tanto na Rússia ortodoxa, na Itália católica, na Inglaterra anglicana, na Suíça presbiteriana como na Alemanha luterana. Ele alicerçava-se na divisão entre clero e leigos. As diferentes confissões não alterariam o fato básico de que em todas elas o clero “produz espiritualidade” e leigos a “consomem” (MALM, Magnus, Vägvisare, 2a ed, 1991,26s.). Isto prestigiava os “reverendos” e era normal eles serem convidados como “autoridades religiosas” para solenidades.



Entrementes, porém, este cenário mudou. As igrejas ainda continuam nas praças centrais, mas já não desempenham o papel de outrora. Quanto maior a cidade, mais adiantada a sua marginalização. Os shoppings e outros espaços de lazer e consumo tomaram o seu lugar. Os pastores e padres, quando muito, são “reverendos” para as suas congregações. O pluralismo cultural e religioso faz com que uma infinidade mensagens concorra com seus sermões dominicais. 



Nesta progressiva corrosão do modelo paroquial, pastores e padres se veem cada vez mais expostos a uma “opressão da performance” (EGG, Tuco, Igreja entre aspas, 2011, p.42): diante do encolhimento do público nas celebrações, eles são cobrados para fazer a igreja navegar de vento em popa como outrora. E isto gera desencanto, estresse e frustração.



Será que a Reforma iniciada com Martinho Lutero nos pode ensinar algo neste ambiente acuado?



Os reformadores viviam em outro tempo e enfrentaram outras dificuldades. Por isso as propostas deles não respondem necessariamente a nossas perguntas e angústias. Mesmo assim, vale a pena sondar se o seu horizonte não se comunica em algum ponto com o nosso. Podemos ousar fazê-lo, porque o Deus trino continua o mesmo. Por dependermos do mesmo evangelho da graça de Jesus Cristo, podemos e devemos procurar aprender das suas testemunhas no passado.



Lutero é muito elogiado pelo que ensinou acerca do sacerdócio geral dos crentes. Mas isto praticamente ficou sem efeito por permanecer na sombra da pesada herança paroquial. Na prática, também as igrejas evangélicas continuaram divididas em duas classes de cristãos – clero e leigos – e, por isso, esqueceram o que o reformador alemão concluíra do evangelho.



Agora, porém, que o modelo paroquial vai-se esvaindo, redescobrimos que, ao insistir o sacerdócio de todos os crentes, Lutero, na verdade, questionou a legitimidade da segmentação da igreja em clero e leigos:



“Se perguntas qual seria, então, a diferença entre os sacerdotes e os leigos na cristandade, se todos são sacerdotes, a resposta é: cometeu-se uma injustiça com as palavras “sacerdote”, “cura”, “religioso” e outras semelhantes, quando o povo em geral foi delas excluído, para serem atribuídas a um pequeno grupo (...) A Sagrada Escritura não conhece nenhuma outra distinção do que aquela de nomear os instruídos e ordenados como (...) servidores, servos e administradores, cuja missão consiste em pregar à demais pessoas Cristo, a fé e a liberdade cristã.” (LUTERO: Da Liberdade Cristã, 5a ed., 1998, p.25s.)


O motivo de Lutero considerar esta divisão entre leigos e clero uma injustiça reside na justificação por graça: quem foi resgatado do pecado pela morte e ressurreição de Jesus participa do reinado e do sacerdócio dele. Jesus foi elevado à direita de Deus e se tornou Senhor de “céus e terra” (Mt 28.18s.; Fp 2.9ss.). Por seu sacrifício, ele – como o verdadeiro sacerdote – intercede (cf. Hb 8-9) por nós diante do Pai e nos ensina o seu amor gracioso. Portanto, quem crer nele participa deste seu senhorio e sacerdócio. Ninguém jamais poderá privá-lo do amor de Deus (Rm 8.28ss.). Todo crente tem acesso direto ao trono da graça e, por isso, pode interceder por seus irmãos e ensiná-los. Assim Jesus, o único mediador (1 Tm 2.5), capacita e envia todos os seus seguidores para que levem o evangelho mundo afora. 


Nesta participação do senhorio e do sacerdócio de Jesus reside a liberdade cristã. Mesmo sem modificar a estrutura paroquial, Lutero não deixou margem para dúvidas: a missão de “pregar a demais pessoas Cristo, a fé e a liberdade cristã” é dever de cada cristão.



“Pois num caso destes um cristão enxerga em amor fraternal a necessidade das pobres almas em perigo, e não espera que (...) bispos lhe deem ordem ou cartas. Porque a necessidade rompe todas as leis e não tem lei.” (LUTERO: Pelo Evangelho de Cristo, 1994, p. 198).


Assim entendo que podemos aprender do Reformador que somos chamados a vivenciar nosso sacerdócio em nossa sociedade secularizada e pluralista. Nesta caminhada é importante observarmos:


1. Para aprender a testemunhar a fé na sociedade pós-cristã precisamos abrir espaço para compartilhar dificuldades e experiências. Nossos cultos e reuniões precisam tornar-se um lugar de ensino mútuo. Não o aprenderemos com quem não convive no mundo secularizado. Assim encorajados e confiantes no Espírito Santo, ousemos falar do evangelho em nossas casas, no trabalho e onde quer que convivamos com “pobres almas em perigo”.



2. Quando uma igreja começa a exercitar o sacerdócio geral, também o papel do pastor muda. Ele passa a fazer retaguarda aos que estão na vanguarda, à semelhança do que fez a Dra. Zilda Arns na Pastoral da Criança. Em vez de monopolizar, como pediatra que era, o tratamento de crianças doentes, ela priorizou capacitar agentes de saúde e, assim, reverteu o quadro de mortalidade infantil no Brasil.



3. Por fim, precisamos lembrar que luteranos e reformados não são os únicos herdeiros da Reforma. Há outros exercitando-se neste “sacerdócio”, como se pode depreender das palavras de Eliezer Morais, pastor da Assembleia de Deus, num debate na Rádio Gaúcha em Porto Alegre no dia 02 de julho de 2012:

“Proclamamos o que herdamos da Reforma: a salvação somente pela graça, fé e Escrituras. Não clericalizamos a liturgia, trabalhamos com simplicidade, envolvidos com a realidade do povo brasileiro e fazemos com que os fiéis leiam a Bíblia” .



• Martin Weingaertner, nascido em Santa Catarina (1949), é diretor da Faculdade de Teo-logia Evangélica em Curitiba (FATEV) e editor do devocionário “Orando em Família”. Seu casamento com Ursula foi abençoado com 5 filhos e 8 netos.


A Reforma Protestante em quatro doutrinas

Aos 31 de outubro de 1517, Matinho Lutero afixou as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, dando início ao movimento que viria a ser conhecido como Reforma Protestante, donde se originaram, direta ou indiretamente, as chamadas igrejas evangélicas. O interesse pela Reforma não é o de um antiquário, mas sim o de verificar a identidade, o significado e a relevância da mesma para nossos dias, com o propósito de receber inspiração da fé ali vivenciada. O que Karl Marx teria percebido para declarar algo como “Lutero venceu a servidão pela devoção, porque ele substituiu a última pela convicção. Ele quebrou a fé na autoridade, por que restaurou a autoridade da fé”?

As teses de Lutero representam um marco para a recuperação da sã doutrina. Elas registram o início da teologia que produziu a reforma na igreja. Embora ainda fizessem referência a resíduos do romanismo tais como: o purgatório, o papado, os santos e Maria como mãe de Deus, sem contestá-los a princípio, percebemos, já nesse momento, as formulações embrionárias das doutrinas que vão caracterizar a identidade protestante.

De fato, Lutero não elaborou novas doutrinas, mas, numa volta à Bíblia como fonte de conhecimento teológico e espiritual, elucidou a mensagem consignada nas Escrituras que se encontrava soterrada sob os escombros da tradição medieval. Podemos resumir a mensagem da Reforma a alguns postulados:

1. A autoridade das Escrituras – Sutilmente, durante o período medieval, as tradições tornaram-se o fator fundamental para determinar os conteúdos da fé e da moral. Um monte de entulho asfixiou a mensagem bíblica. A Reforma resgatou e restabeleceu a Escritura como fonte suprema e final quanto ao conhecimento de Deus e da sua vontade, para o indivíduo e para a igreja.

2. Justificação pela graça mediante a fé – Contestando a compreensão romanista de salvação por mérito pelas obras, que tinha como símbolo distintivo a venda de indulgências (compra do perdão) a Reforma resgatou o ensino bíblico de que a salvação (perdão, aceitação diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus àqueles que confiam em Jesus como seu salvador. A salvação não pode ser comprada, mas procede da misericórdia de Deus para com o pecador que se volta para a cruz de Jesus.

3. A centralidade de Cristo – A igreja romana enalteceu o papa como cabeça da igreja e representante terreno da esfera celestial. Também Maria e os santos eram mediadores e intercessores junto a Deus. A reforma acentua que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Só ele tem poder para efetivamente perdoar pecados. A sua obra na cruz é suficiente e exclusiva para a nossa salvação. É Ele que intercede junto a Deus, como advogado, por aqueles que Nele confiam.

4. Sacerdócio de todos os crentes – Contrastando com o ensino de que somente a hierarquia da igreja (o clero) constitui o sacerdócio autorizado para representar a Deus diante dos homens e vice-versa, a Reforma ensina o sacerdócio universal, isto é, que todos podem comparecer diante de Deus, estudar a sua palavra e ser agentes a seu serviço. A Reforma, conquanto reconheça vocações eclesiais específicas, afirma que todo o povo de Deus é igreja, uma igreja onde todos são chamados a servir a Deus.

Com essas e outras afirmações, os reformadores conseguiram minimizar o distanciamento da igreja medieval do modelo observado no Novo Testamento. Conquanto a obra da reforma não tenha sido completa – e os descendentes espirituais da reforma compreendam que a igreja reformada está constantemente se avaliando à luz do padrão bíblico – a Reforma continua sendo um marco para uma genuína identidade evangélica, em meio ao conturbado contexto religioso contemporâneo.

Essas doutrinas provocaram uma enorme transformação social porque, na verdade, foram a plataforma para a libertação pessoal diante de Deus.


• Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção, membro do Conselho Gestor da Aliança Evangélica e coordenador em Minas Gerais da Fraternidade Teológica Latino-Americana/ Setor Brasil. Twitter: @prgillis

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CONSTRANGIMENTO GENÉTICO

Recebi este artigo do meu grande amigo Roberto Bittencourt. Repasso
porque acho importante, informativo e edificante. Abraço a todos, Miguel Cox.



Roberto Bittencourt Júnior
2 de setembro de 2014 09:34

CONSTRANGIMENTO GENÉTICO: 

Esse é o termo utilizado nas discussões acadêmicas de gênero para designar algo cientificamente intransponível até o momento. 
Ou seja, há um “constrangimento genético” no debate, pois todos nascem com definição biológica de gênero. Isto é, ou nascem machos ou nascem fêmeas. E a Bíblia declara, “macho e fêmea os criou” (Gênesis 1:27). 
Por mais que se queira definir o gênero com bases psicossociais (como é o caso da escola que defende a identidade psicológica de gênero, coincidente ou não com a identidade biológica), seus defensores infalivelmente esbarram no constrangimento biológico. 
Ou seja, um homem ou uma mulher, por mais mutilações a que se possa submeter, não consegue alterar o status de seu gênero biológico original. 
Eles e elas serão sempre um resultado genético de uma combinação XX ou XY. Roberta Close, por exemplo, nunca dará à luz um filho! Nunca será uma mulher, no sentido real do termo, uma fêmea. 
Esse é o constrangimento genético que os defensores da identidade de gênero psicológica têm que engolir. Além de frágil bioquimicamente falando, essa base psicológica de identidade de gênero abre porta para uma infinidade de orientações sexuais. 
Em última análise, com base nessa escola psicológica, uma pessoa com identidade biológica masculina ou feminina poderá se ver ou se entender com orientação ou atração tanto assexual quanto hétero, homo, bi, tri, poli, pan, trans, andrógeno-sexual, pedossexual, pecuáriossexual, equinossexual, ovinossexual, caprinossexual, e por aí vai. 
A lista será infinita numa pergunta de gênero em qualquer formulário! Pensem nisso. 
Quem dirá o que é certo ou errado? Quem poderá negar a estes a consumação de seus desejos instintivos, sejam eles normais ou não, sádicos ou masoquistas, passivos ou ativos? 
Na minha opinião, quando e se pais, professores e igrejas não puderem ensinar as crianças sobre gênero, sobre comportamento sexual aceitável, porque a própria legislação não saberá mais informar a diferença entre uma coisa e outra, posto que não existirá mais simplesmente a definição simples de macho e fêmea, o que será da sociedade? 
Seremos obrigados a conviver impassíveis com um bando de tarados? 
* Se alguém quiser bolinar com meu filho, o que me será permitido fazer? 
* Se um estudante mexer com outro no banheiro da escola, o que será permitido ao professor fazer? 
* Se um ser sexualmente não resolvido quiser a bênção do pastor, o que a igreja poderá fazer? 
A Bíblia me orienta sobre isso tudo com muita segurança e simplicidade. 
Homens devem se comportar como homens. Mulheres, como mulheres. 
A Bíblia determina que "um homem não se vista como mulher e vice-versa". Que “um homem não se deite com outro homem". Que "uma mulher não se deite com outra". 
Tudo isso, diz a Bíblia, é "contrário à natureza". Do ponto de vista bíblico, prevalece o constrangimento genético, pois o gene gay simplesmente não existe!
Fonte: recebido por e-mail do amigo Pastor Flávio Almeida

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A grande e irrefutável prova de que Deus existe


Certa feita alguém perguntou: “qual é a prova, em uma única palavra, de que Deus existe?” Houve respostas procedentes, outras não. Uma foi contundente e precisa: “Israel”.

Temos vários acontecimentos que causam surpresa e admiração ao mundo todo, em relação a Israel, mas não são eles para dar evidência a Israel; não! Tudo o que vem ocorrendo e que surpreende o mundo, é para a glória de Deus tão somente.

Deus ama a “terra que mana leite e mel”, a terra prometida ao seu povo, Canaã, a menina de seus olhos, Israel. Nenhuma de suas promessas deixou de ser cumprida, e as remanescentes serão cumpridas, literalmente, para a honra e glória do Seu nome, Ele não pode permitir que o seu nome seja escarnecido pelo não cumprimento, literal, da Sua Palavra Profética.

No ano 70 de nossa era, Tito e suas tropas devastaram Israel, seu povo foi enxotado dali, os judeus foram dispersos para outros países. Ainda hoje, decorridos quase 2000 anos, e lá estão, cidade velha, as ruínas desse acontecimento incontestável.

Nos países em que foram se refugiar, os judeus aprenderam os idiomas dos povos que lhes acolheram; também lá aprenderam e passaram a agir de acordo com os seus costumes.

A terra de Israel virou um imenso deserto, sem água, sem plantas, sem árvores, sem flores, e até sem os seus legítimos proprietários, embora uma minoria tenha permanecido, e continuado a trabalhar, a plantar.
No século XIX, iniciou-se um movimento de retorno dos israelenses à sua terra, volta que se incrementou a partir da Resolução 181, da ONU, em 29.11.1947, e da fundação do novo Estado de Israel, em 14.05.1948. Os que retornaram plantaram, irrigaram e hoje tudo é verde: plantas, árvores, muitas flores embelezam a terra antes árida, seca e vazia; a bem da verdade não é terra, mas pedra, argila e areia, mas o verde está por toda a parte, um milagre de Deus.

Para os olhos dos que passam e veem, como nós, as terras que estavam desoladas estão fortificadas e habitadas; diz a Palavra de Deus: “Todos saberão que eu, o Senhor, reedifiquei as cidades destruídas e as replantei (Ez 36. 36).”

“Haverá, ainda, um renascimento espiritual [Romanos 11], como houve o nacional, e esse será ainda mais penoso que o nacional”; são palavras que ouvimos lá, em Israel, da parte de Fredi Winkler.

Todos os impérios mundiais profetizados, séculos antes, por Daniel, existiram, e, como a Profecia previa, foram derrotados, deixaram de existir. O profeta Zacarias previu, 200 anos antes, como seria implantado o império de Alexandre Magno, o grande; ele fala sobre como conquistar a Assíria, a Filístia, entre outras, o que ocorreu literalmente.

Na ida e volta, Alexandre foi conquistando os países pelos quais passava [a profecia dizia “os que passam e voltam”], mas ele não tocou em Jerusalém porque Deus disse que seria assim.

Flávio Josefo escreveu que, quando Alexandre se aproximou de Jerusalém, ele chamou o sumo sacerdote para lhe dar boas vindas, mas o que ocorreu foi o contrário, Alexandre se ajoelhou diante dos sacerdotes, e disse que havia sonhado assim – tratou, por isso, os habitantes protetoramente.

As profecias do final dos tempos só poderão acontecer se houver um Estado judeu/hebraico, por isso esse povo voltou, fala a sua língua original, o hebraico, língua que perdeu no decorrer do tempo. No retorno, miraculosamente, essa língua foi revivida. A ciência diz que jamais houve isso na história mundial.

Diz o rabino Menachem Kohen: “Sabemos que em algumas áreas do mundo a fome ocorre ocasionalmente por causa da escassez das chuvas. (...) Israel é um país que já foi incrivelmente fértil e que subsequentemente foi privado das chuvas pela maior parte dos 1800 anos. (...) Virtualmente não houve nenhuma chuva e nenhum alimento durante 1800 anos – este é um fenômeno totalmente inexplicável e totalmente incrível. Não ter precipitação de chuvas adequadamente por quase 2 milênios está além do âmbito das probabilidades estatísticas em qualquer região do mundo – mas em especial onde antes as chuvas haviam produzido uma fertilidade tal que aquela terra era repetidamente descrita como a “terra que mana leite e mel”. Em tempos passados, esta terra fértil ostentava florestas e copiosas colheitas. Até os animais eram semelhantemente afetados. A terra era simplesmente bela em todos os aspectos. Que uma terra fértil fosse subitamente privada de água e depois que uma terra assim fértil fosse transformada em um deserto – evoluindo da fertilidade à esterilidade parece ilógico. Além disso, esta transformação incomum para uma terra desolada persistiu durante 660 mil dias, algo totalmente sem paralelos nos anais da história mundial”.

As chuvas voltaram, miraculosamente, assim que os judeus começaram a voltar para a sua terra, e Israel tem chuva até hoje. Não há necessidade de mais sinais tão fortes para provar que o nosso Deus existe, e está vivo, atuando a favor dos seus filhos.

Edmar Torres Alves - editor do Sê Fiel 

A Pátria sem chuteiras


Ficamos descalços, o salto alto quebrou, e as chuteiras milagrosas do nosso triunfalismo, murcharam, encolheram, sumiram [ficaram invisíveis], não correram, não lutaram, não suaram, não se esforçaram, não reagiram, nada fizeram, pasmas diante do inusitado superior preparo emocional, físico, técnico e tático dos adversários.

Foi o pior jogo do torneio, e de todas as copas passadas, inferior até mesmo aos jogos dos países de menor expressão no plano internacional, dos quais nada se esperava, mas fizeram um bonito papel.

Saímos do penta saltamos o hexa, e fomos direto para o hepta [7 x 1]; um resultado acachapante, humilhante, desmoralizador para quem diz que somos os melhores do mundo, que somos imbatíveis, que a genialidade do brasileiro a tudo supera!

Há poucos dias, no início do ufanismo futebolístico dessa Copa, que, dizem, “era nossa,” eu disse em texto anterior: “Deus nos fala [e por Ele quase ninguém se interessa], através do Apóstolo Paulo que ‘Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível’ (1Co 9 25), qual seja a vida eterna, a salvação pessoal, em vida, não após a morte; a salvação do pecado e de suas consequências para os que vivem em desobediência a Deus, que deixou claro na sua Palavra, a Bíblia Sagrada, que Ele quer nos livrar do dia mau, da grande tribulação, do fogo eterno no inferno”.

Já que perdemos a taça corruptível, já que perdemos a taça que dependia de ritos e mandingas do ocultismo, claros e evidentes nos símbolos do troféu, é hora de acordar, o gigante ainda continua adormecido; embora com rompantes de sermos não o Brasil do futuro, mas, já, o melhor do mundo, em tudo, um oásis de triunfos, de vitórias [enganosas vitórias] na política, na economia, nas conquistas sociais, nos índices manipulados com vistas a dizer que “alcançamos as metas” (sic).

Somos um País que vive de ilusões, que vive de fantasias, que vive de sonhos, que vive de promessas vãs, nunca cumpridas, mas renováveis; a cada marolinha, a cada ventinho de tormenta à vista, um pacote de bondade se anuncia, e como “a esperança é a última que morre” (sic) dormimos na paz, tranquilos na certeza que amanhã o sol vai nascer mais amigo, que as estrelas cintilarão no céu brasileiro, que a tempestade vai passar!

Parafraseando a doutrina marxista que afirma que a “religião é o ópio do povo”, não temo dizer que o futebol é que é o ópio do brasileiro. O povo iludido, enganado por um torneio muito bom, muito rico, muito agradável ao coração e aos olhos, muito entusiasmante; esse povo se esquece das dificuldades, se esquece das tristezas orçamentárias [deficitárias] do dia a dia, se esquece da fome, se esquece do frio, se esquece do pé no chão, e, face ao pé descalço, se esquece do bicho do [no] pé, aquela coceirinha gostosa que eu sentia quando criança pobre.

Diante do espetáculo de real grandeza, diante de competições tão vibrantes, o povo esquece que bilhões foram gastos no supérfluo, nos elefantes brancos que ficarão ociosos, às moscas, deteriorando-se por não haver público regional que lhes sustente a manutenção; e escolas não foram criadas, hospitais não foram construídos porque o “ópio do povo” foi alimentado, alimentado de falsas ilusões, que já desmoronaram, e de goleada!

Voltando a Paulo, o prêmio [taça] que o esportista busca é corrosível, é corruptível, é derretível como aconteceu com a “Jules Rimet”; mas o troféu Reino de Deus é permanente para os fiéis ao Senhor Jesus, Ele salva a tantos quantos o obedecem (Hb 5 9), mas o cristão não está isento de problemas materiais: perdas, derrotas, desastres, etc.; o Senhor Jesus disse “no mundo passais aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo” (Jo 16 33).

É incentivadora a expressão do salmista: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte o Senhor está comigo” (Sl 23 4), e não podemos nos esquecer da oração de Habacuque; sim, “mesmo que a figueira não floresça, nem haja uva na vide, e o produto da oliveira falte, e os campos não produzam alimentos, mesmo que as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado”, mesmo que tudo de mal nos aconteça, ainda assim nos alegramos no Senhor.

Essa nossa alegria está alicerçada em algo muito mais elevado, muito mais relevante, muito mais motivador que é a certeza da vida eterna na presença do nosso Deus, o Deus criador do céu, da terra, dos mares e de tudo o que neles há; o Pai bondoso, misericordioso, justo, digno, forte, único e infalível.

Se Ele prometeu nunca nos deixar, jamais nos abandonar (Hb 13 5) podemos confiar que Ele está sempre com a sua mão estendida para nós: elas nos abençoam, elas nos consolam na hora triste, elas nos conduzem, ainda que no vale da sombra da morte!

Corramos a carreira que nos está proposta (Hb 12 1), a carreira rumo ao trono de Deus, a carreira da eternidade muito mais importante, muito mais gratificante do que as conquistas materiais, corrosíveis, corruptíveis, derretíveis, decepcionantes. 

Edmar Torres Alves - editor do Sê Fiel

terça-feira, 8 de julho de 2014

TRANSITÓRIO ou DEFINTIVO

Estamos vivendo o emocionante desfecho da Copa do Mundo de 2014.

Nesta semana serão disputadas as semifinais, classificando as duas equipes que se enfrentarão no domingo para definir a campeã.

A ansiedade toma conta da grande maioria dos que estão acompanhando este campeonato, principalmente dos brasileiros, argentinos, alemães e holandeses, cujas seleções ainda permanecem na competição.
Enfocando principalmente a reação de nosso povo, fico a imaginar que, dependendo dos resultados das duas próximas partidas, poderemos experimentar emoções radicalmente opostas, entre os extremos de uma explosão de euforia até à profunda frustração de nadar o oceano inteiro e morrer na praia.

Basta recordar o que vivenciamos nas copas passadas, seja nas cinco vezes em que nos sagramos campeões, ou quando sentimos o gosto amargo da derrota.

Relaciono a seguir algumas possíveis consequências se o Brasil vier a se sagrar HEXA-CAMPEÃO?
Nosso povo sairá às ruas para dar vasão à sensação de júbilo.

Aproveitaremos para desfrutar a agradável sentimento de superioridade sobre nossos competidores, principalmente os argentinos.

Anestesiaremos, por algum tempo, as reais situações adversas que nos afetam cotidianamente, como inflação alta, serviços precários de saúde, educação, segurança, problemas de desemprego, fome, drogas, etc.

Provavelmente, o resultado desta copa do mundo será explorado na campanha eleitoral deste ano, por perspectivas opostas, seja em caso de vitória ou derrota da equipe brasileira.

Mas, de fato, muita pouca coisa há de mudar, qualquer que seja o desfecho deste campeonato e, como diz a música de Chico Buarque, tudo voltará ao seu lugar após a banda passar.

Tais reflexões me trouxeram à memória o seguinte texto “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.” (1º Coríntios 9: 25)

Todos nós temos, por certo, vários objetivos a atingir ao longo de nossa existência. E, para alcançá-los, nos esforçamos, fazemos sacrifícios, suplantamos obstáculos, chegamos muitas vezes a experimentar rivalidades, enfrentar ameaças, e quem sabe, até mesmo sofrer vários tipos de violência, desde as verbais às físicas?

Olhando retrospectivamente para minha vida, a pergunta que me faço é: será que valeu a pena tanto esforço para algumas causas pelas quais lutei?

Será que as coroas de louro conquistadas com tanto sacrifício, após algum tempo passado, não se encontram corrompidas, murchas, e sem o brilho do momento em quem subimos ao pódio?

Em outras palavras, valeu a pena o CUSTO—BENEFÍCIO para botar a mão na taça, conquistar um emprego, obter um excelente retorno financeiro, adquirir um bem, atingir um status, enfim, sermos considerados vitoriosos e bem sucedidos na vida?

Ou seja, até que ponto nossas metas e objetivos, por mais legítimas e meritórias que sejam, poderiam ser classificadas em TRANSITÓRIAS ou DEFINITIVAS.

Proponho os seguintes critérios para distinguir entre estas duas categorias:

TRANSITÓRIAS: Relativas a esta vida terrena, conforme descrito no texto de Salmo 90: 10 “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos.”

DEFINITIVAS: relativas à eternidade, conforme João 3: 16 “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Com base nos dois textos acima, posso concluir que, por mais vitoriosa que seja a minha vida nesta terra, independente de quantos e quão valiosos sejam os objetivos conquistados, se eu não tiver tomado posse da salvação em Cristo, não alcançarei a COROA INCORRUPTÍVEL, vale dizer, não desfrutarei da VIDA ETERNA com DEUS, conforme as palavras de Jesus “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6)

Finalizando, gostaria de relembrar a reação dos 70 discípulos que regressaram da missão que Jesus lhes havia confiado, dizendo alegremente: “ Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas Jesus lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. (Lucas 10:17-20)

Já temos a certeza de que nosso nome está arrolado nos céus?

Caso positivo, isto é DEFINITIVO, pois nos garante a certeza de que seremos herdeiros de DEUS e coerdeiros com CRISTO por toda a VIDA ETERNA.

Tudo o mais é TRANSITÓRIO, inclusive a vitória ou derrota do Brasil nesta COPA DO MUNDO.

Américo Marques Ferreira
07 de julho de 2014

Fonte: o próprio autor, por e-mail,  antes do jogo Brasil e Alemanha.